Eu tenho uma amiga. Uma amiga que ninguém conhece. Ela não tem um pai nem uma mãe. E nem sequer algum dia nasceu. Não fala, não ouve e muito menos vê.
Mas é uma amiga.
Ela viaja muito. Corre todos os cantos, descobre todos os promonores. Ela vai de sitio em sitio, sem ter grande preocupação com o destino.
Ela já viu tudo, mas nunca niguém a viu a ela.
E ela é feliz.
Há pouco senti-a pousada numa árvore a escrever muito depressa como se tivesse medo que as ideias lhe fugissem.
Sim, ela não fala, não ouve e não vê. Mas escreve. Aliás sempre me fascinou a maneira de ela escrever.
Ela escreve tudo.
Sinto sempre quando ela vai nas suas viagens, oiço as suas chinelas fazerem tik tak constantemente. Passo o dia a ouvi-las, pois ela está sempre nas suas viagens.
Uma dia senti que me levaria consigo, e continuo á espera desse dia.
Fico sentada horas a fio á espera que regresse, para me poder levar na viagem seguinte. Mas sempre que regressa parte logo de seguida e não consigo sentir-me a agarrar-me a ela.
Então aqui fico, no mesmo sitio, sem grande coisa para fazer. e mesmo que tenha alguma coisa para fazer não é a coisa que eu quero fazer.
O que eu quero é poder sentir-me nas viagens com a minha amiga.
Não quero mais dizer as palavras do costume. Não quero dizer um bom dia nem um até amanhã. Não quero sorrir, nem quero obedecer a ninguém. Não quero deitar-me a horas decentes, nem ter que mudar os lençois da cama. Não quero nem sequer ter que tomar banho ou pôr cera nas pernas. Não o quero, porque simplesmente não quero fazer o que é bem parecido.
Eu não quero ser só um ser, quero ser um bilião de seres, todos diferentes, todos lindos, todos únicos.
Exagerado, o que sinto que quero?
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
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